O bocal é o
grande responsável pela sonoridade da flauta, sendo talvez a peça mais
importante, a “alma” do instrumento. Existe uma regra que diz: “quanto mais
próximo um elemento se encontra da origem da vibração do instrumento, mais
importante ele é”. Esta regra pode ser aplicada às palhetas dos oboés e
fagotes, aos bocais dos instrumentos de metais, e certamente ao bocal da flauta.
O som da flauta é produzido pela vibração do ar no orifício do bocal, portanto
lá fica o ponto chave da flauta. Que a
produção do som vem do bocal, já sabemos, e um bom bocal irá produzir um som
não apenas de boa qualidade, mas também de fácil emissão para o flautista. Mas
logicamente que o corpo da flauta também é responsável por uma parte, ainda que
menos, da qualidade e ressonância do som gerado pelo bocal.
É no corpo da
flauta que se encontram as chaves e os mecanismos, sendo portanto a parte onde
se exige grande precisão e acabamento. Existem vários detalhes que fazem
diferença: além do material empregado (níquel, prata, ouro) devemos considerar
seu acabamento, a maneira como a furação é feita, se as chaminés são soldadas
ou puxadas, a precisa localização dos furos, o material das molas (aço
inoxidável, ouro), entre outras coisas.
As fábricas
de flauta estão sempre aperfeiçoando sua construção e criando novas tecnologias
e materiais, e infelizmente quase sempre vale a regra: quanto melhor a flauta,
mais cara ela será! Dificilmente uma flauta de material inferior, de níquel,
por exemplo, terá som, mecânica e afinação tão bons quanto uma de prata.
Estudo do som da flauta
O ar flui
para dentro e para fora do orifício da embocadura de maneira periódica,
numa certa frequência porque o ar que ocupa o interior
do tubo da flauta se comporta como um corpo elástico; inicialmente, a energia
do sopro comprime esse ar e, em seguida, a energia acumulada nessa compressão é
liberada, expandindo-o e deviando o sopro para fora, e essa compressão e
expansão do ar se repete centenas vezes por segundo.
A Frequência (
portanto qual nota musical soará) em que isso ocorre é determinada pelo formato
e tamanho do tubo no qual o ar está sendo comprimido e expandido, o que faz com
que o ar contido no tubo tenha uma frequência de ressonância.
O formato da
flauta equivale a um cilindro aberto em ambas as extremidades e este
modelo nos ajudará a explicar a maneira como o tubo tem uma frequência de
ressonância A velocidade de propagaçao do som no ar é de
cerca de 346 metros por segundo, assim, ao iniciar o sopro na embocadura,
uma frente de onda de pressão demora um determinado tempo até chegar
na outra extremidade do tubo que é aberta ao exterior, mas, quando chega ali,
só uma parte da energia da frente de onda sai da flauta, a outra é refletida
novamente para o interior da flauta, porque não há casamento das impedâncias do
ar dentro da flauta e do ar fora dela (devido à abrupta passagem da onda de um
meio limitado pelo formato cilíndrico para um meio de espaço aberto).
Essa frente de onda
refletida desloca-se pelo interior da flauta agora em sentido contrário até
chegar à abertura no outro extremo (o buraco da embocadura), onde uma parte da
energia dela será irradiada para o exterior (fazendo o sopro do músico na
embocadura se desviar momentaneamente para fora do buraco), enquanto a outra
parte da energia será novamente refletida mas agora como uma frente de onda
reintensificada pela energia fornecida pelo sopro do músico (dado que no
momento da reflexão da frente de onda, o sopro do músico é dirigido
momentaneamente para dentro). E esse vai e vem inicial da frente de onda
origina uma onda estacionária que continua se repetindo enquanto mantém-se o sopro.
Como as duas
aberturas do tubo são os dois pontos da flauta onde o ar possui menor diferença
de pressão em relação à pressão ambiente e também o máximo deslocamento das
particulas de ar - enquanto o centro do tubo é onde o ar tem menor deslocamento
e máxima diferença de pressão -, as únicas ondas estacionárias que podem se
formar são aquelas cujo comprimento de onda tem pelo menos dois de seus nodos
de pressão (pontos com mínima diferença de pressão com relação ao ar ambiente)
nestes dois pontos da flauta, o que produz os sobretons harmônicos. Por esta
razão, quando se sopra o ar com uma velocidade relativamente baixa, produz-se
uma meia-onda estacionária que ocupa todo o comprimento do tubo (com dois nós
de pressão nas extremidades do tubo), mas se formos aumentando a velocidade do
sopro, ao invés da frequência ir aumentando proporcionalmente, a mesma
frequência fundamental permanecerá até que a partir de um momento produzir-se-á
repentinamente uma onda estacionária com o dobro da frequência (isto é, uma oitava
acima), já que esta também terá nodos coincidindo com as extremidades abertas
do tubo, se continuarmos aumentando a velocidade do ar soprado, produziremos os
demais sobretons um a um.
Essa Animação representa a onda estacionária de pressão (primeira ressonância) que se forma num tubo aberto. A direita, o deslocamento da onda ao longo do tubo, como variação de pressão (direita, acima) e como variação do deslocamento das partículas de ar (direita, abaixo).
A figura representa as primeiras três ressonâncias em um cilindro aberto. Essa imagem torna mais claro como a onda é refletida nas extremidades abertas da flauta e desse modo forma ondas estacionárias
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